HISTÓRIA DA CIDADE



Na segunda metade do século XIX vamos encontrar a cidade São Paulo em um momento de grandes transformações. Abrangendo um perímetro relativamente pequeno, a cidade expandiu-se de modo crescente e imprevisível, alterou-se o ritmo de vida e modernizou-se através de três fatores fundamentais: a expansão cafeeira, a viação férrea e a imigração européia.
A primeira ferrovia paulista foi inaugurada em 1868, ligando a capital ao Porto de Santos, e a partir de 1872, quando os trilhos chegaram até as zonas cafeeiras, é que a cidade vem a sentir as conseqüências desse empreendimento. De 1887 em diante a imigração intensifica-se, contribuindo favoravelmente para o crescimento da economia paulista.
A cidade desenvolveu-se rapidamente em relação às outras do país e enquanto se conservou em torno da colina central do Pátio do Colégio, não conhecia as diferenças sociais e funcionais de um ponto ao outro, a não ser as áreas de abrangência das diversas chácaras em seu entorno. A partir da década de 1880/1890 iniciou-se a expansão da diversificação de funções e o surgimento de bairros situados na porção mais baixa da cidade, próximos ao Tamanduatei e das estações ferroviárias (Brás, Luz e Bom Retiro), outros residenciais e afastados do Anhangabaú, em direção oeste, locais de terrenos mais planos que proporcionaram a abertura de largas avenidas e ruas abrigando suntuosas moradias da emergente aristocracia cafeeira (Campos Elísios e Higienópolis).
Outros bairros surgiriam ao longo dos anos, com o crescimento nem tanto acelerado, mas com características bem definidas e modestas, abrigo de imigrantes italianos, portugueses e espanhóis: Consolação, Liberdade, Cambuci, Vila Mariana, Bela Vista, Ipiranga, Vila Prudente, Vila Osasco, etc.

O IMIGRANTE, SEU OFÍCIO E SUA TERRA
Conforme Decreto Nº 6191 de 03 de maio de 1876 o Império concede a garantia de juro de 7% sobre o capital de 6000:000$000 à companhia que o Dr. Joaquim Carlos Travassos e o Desembargador Bernardo Avelino Gavião Peixoto organizam para o estabelecimento de um engenho central destinado ao fabrico de açúcar , no município de Capivari, Província de São Paulo.
Cláusula 2ª. Preferência para a aquisição de terrenos devolutos existentes no município, efetuando-se pelos preços mínimos da Lei Nº 601 de setembro de 1850, se a companhia distribuí-los por imigrantes que importar e estabelecer, não podendo, porém vendê-los a estes devidamente medidos e demarcados por preço excedente a que for autorizado pelo governo.

O IMIGRANTE
Antônio Giuseppe Agú nasceu em Osasco, Itália, no dia 25.10.1845. Filho de Antônio Giuseppe de Pietro Agú e Domenica Vianco. Casou-se com Benvenutta Chiaretta, tendo dessa união uma única filha, Primitiva Dominica Michela Agú. Informações do histórico da Cúria Metropolitana de Osasco, Itália, informam que Agú em 1872, emigrou para o Brasil, e trabalhou na construção do Engenho Central de Capivari, cidade do interior da Província de São Paulo.
Residindo na capital, compra imóveis nas ruas Lins de Vasconcelos e da estação, atual rua José Paulino, e de João Pinto Ferreira e esposa, em 1887, uma parte do sítio Ilha de São João. A propriedade existente no km 16 da estrada de ferro Sorocabana possuía casas, ranchos e forno de olaria, tendo os limites: frente para a linha férrea, vertente Bagreira, córrego Bussocaba e rio Tietê.
Meses depois, Agú adquire o restante do sítio, uma área de 400 alqueires, incluindo trecho de 50 alqueires contendo: vinhedo, diversas casas, árvores frutíferas, casa de moradia, ranchos, engenho movido a água e casa de fabricação de farinha. Limites: linha férrea, córrego Bussocaba, valo divisor com Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, córrego João Alves e a estrada de ferro.
Em 1889, sua filha Primitiva Maria, casada com seu primo Antônio Vianco, dá à luz a menina Josephina Vianco, alguns dias depois a mãe vem a morrer vítima de febre puerperal.
A propriedade, "FAZENDA OSASCO" já dava os primeiros sinais de desenvolvimento; na área reservada para si próprio, Agú constrói uma casa de moradia e outras para braçais, planta árvores frutíferas e videiras. Próxima a esta, ergue um estábulo (1892), casa de máquina da fábrica de papel, estação Osasco (1894), a fábrica de tecidos de Henrique Dell’Acqua e o curtume (1900), para a olaria constrói casas operárias, fornos e ranchos.
Em 1894 a Superintendência de tráfego da Cia. Sorocabana aponta a necessidade de se construir estações intermediárias entre as existentes. No mês de agosto de 1895 a Superintendência declara aberta uma estação de trens no km 16; em setembro o relatório apresenta os serviços realizados: desvios de Porto Martins a São Manoel de 100m, e outro no km 16 na estação Osasco para os trens de carga. Sendo, assim, em 1895 a estação foi oficializada, porém já existia desde 1894, segundo descrição da escritura de venda de Agú e esposa, à Comoratti Ciriaco: (...) "um terreno nesta comarca na Estação de Osasco, Estrada de Ferro Sorocabana" (...)

A VILA
Para drenar as terras próximas a estação constantemente alagadas, são plantados milhares de eucaliptos. Os trechos mais secos são loteados a imigrantes, favorecendo a ocupação urbana da região central, embora ela tenha o seu início próxima a estrada São Paulo-Itú. Esse loteamento daria origem a Vila Osasco e ao traçado das atuais ruas Primitiva Vianco, República do Líbano, Antônio Agú, Batista de Azevedo, João Batista e da Estação.
As primeiras residências da Vila eram modestas e pobres arquitetonicamente: a de Mariana Fabri e Giuseppe Barbieri (antiga rua Ferre, atual Republica do Líbano), Brícola e Cia. (Rua Henrique Dell"Acqua, atual Antônio Agú), funcionais e simplificadas estruturalmente (vila operária da olaria, próxima ao córrego Bussocaba, e da fábrica de papel, rua da carteira, atual Narciso Sturlini), elegantes e refinadas, de Giovani Bricola (chalé bricola na estrada de rodagem São Paulo a Itú, atual Av. dos Autonomistas; "casa amarela", rua Primitiva Vianco), Alexandrine de Bogdanoff ("Vila Sascha" na rua Primitiva Vianco). Algumas já existiam quando da venda dos lotes.
Podemos caracterizar a vila como um local essencialmente operário, e certamente a maioria de seus habitantes, estariam integrados nas atividades econômicas desenvolvidas por Agú; a fábrica de papelão, curtume, cocheira, olaria e a fábrica de tecidos de Henrique Dell’Acqua, esses imigrantes que para a Vila afluíram entre 1894 e 1907, adquirindo pequenos lotes e cultivando a terra dariam, origem ao processo histórico para a formação de Osasco...
Ao introduzir a mão de obra em seus empreendimentos, Agú favoreceu não só o loteamento de áreas de sua propriedade. Foi algo bem mais do que um simples arranjo físico do homem em um complexo urbano, pois o mesmo inicia-se com a transferência do homem do campo para a Vila, e não um conjunto de pessoas que para cá viessem com o intuito de garantir a posse da terra e conseqüentemente a criação de uma grande família italiana. Eles vieram realmente com a vontade de povoar e trabalhar pela produtividade da terra. Esses primeiros habitantes trouxeram costumes e manifestações culturais hoje esquecidas e por não terem sido registradas, torna-se impossível saber de que maneira foi o seu modo de vida e adaptação na nova pátria.
Quando a industrialização começou, a Vila já caminhava para uma realidade urbana e social, que desempenhou destacado papel na concentração e fixação urbana, geradora da concentração de capital, ocasionando transformações profundas entre a transição de uma realidade agrícola que embora não tenha exercido destaque e influência na organização na Vila, mas predominou de forma bastante modesta, para uma sociedade industrial que dava os primeiros passos.
Essas atividades, acabaram exercendo uma influência poderosa e importante para o crescimento da Vila, por sustentar-se com a mão de obra imigrante, que deslocava-se de São Paulo para a região, em busca de meios de vida, propriedades e da proximidade de patrícios oriundos de cidades vizinhas entre si na península itálica. A Vila Osasco era basicamente italiana...
Esse processo industrializante surge com as transformações que Agú realiza na antiga olaria, acrescentando-lhe novas construções, aumentando a produção cerâmica e a arrendando ao barão Evaristhe Sensaud de Lavaud em 1898, que por sua vez a transformaria em um dos mais sólidos empreendimentos do ramo cerâmico.
Hábil construtor, Agú participa das obras de construção do hospital Humberto Primo, e certamente todas as edificações da Vila estiveram sob a sua direção. Até a sua morte em 25.01.1909, Agú procurou fazer da Vila Osasco um local progressista e habitável, sendo mais do que justas as homenagens que lhe são prestadas.

EMANCIPAÇÃO
A industrialização do subdistrito de Osasco, iniciada nos fins do século passado, e profundamente impulsionada a partir da década de 40, acabou por atrair a mão de obra especializada e conseqüentemente, mais moradores para o bairro. Obviamente o caráter de urbanismo mudou significativamente a localidade... As necessidades básicas de saúde e educação, no entanto, não eram atendidos pela Prefeitura de São Paulo.
Em 1947. foi fundada a Sociedade Amigos de Osasco - SAO, com objetivo de reivindicar melhorias para o bairro. Seus idealizadores, Reinaldo de Oliveira, Dimas Tavares, Carmine Fiorita e outros, passaram a se reunir regularmente, e conscientizar a população da necessidade da emancipação político-administrativa. Surge a campanha pela Emancipação.
Além da SADO outros órgãos representativos de Osasco, como a União dos Estudantes de Osasco, Sociedade Amigos do Jardim Santo Antonio, Helena Maria, Novo Osasco, a Cooperativa de Consumo de Osasco, Jornais e Sindicatos, participaram da luta pela Emancipação.
Outra parte da comunidade osasquense era contra. Denominada " Liga de Defesa de Osasco ", seus membros alegavam que, com a criação do município, o valor imobiliário cairia, o salário diminuiria e Osasco perderia uma série de benefícios.
O primeiro plebiscito, realizado em 1953 favoreceu a turma do " NÃO ". No segundo, realizado em 1958, a SADO, a turma do " SIM ",acabou ganhando.
O Município de Osasco foi criado pela Lei Nº 5121 de 30 de dezembro de 1958. A partir dessa data, até 1962, os moradores de Osasco se empenharam tenazmente pela oficialização do município, sendo que as eleições para prefeito e vereadores foram suspensas pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Os autonomistas, eram acusados de fraudar o resultado da votação do plebiscito que criou o município. Os recursos e os sucessivos mandados de segurança impetrados pela Prefeitura de São Paulo acabavam originando uma série de protestos entre os moradores, que em luto fecharam as lojas por um dia.
Após novas resoluções a eleição foi marcada, e em 19 de fevereiro de 1962 tomaram posse, o primeiro prefeito e os vinte e três vereadores eleitos

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